Devassa da PM concluiu que houve desvio de combustível em 15 batalhões diferentes
Uma devassa feita pela PM para apurar desvios de combustível durante o ano de 2013 concluiu que houve irregularidades em 15 batalhões. Para cada unidade, a Corregedoria da corporação abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar fraudes. Só nos tanques do Regimento de Polícia Montada (RPMont), em Campo Grande, e do 16º BPM (Olaria), foi comprovado um rombo de dois milhões de litros de gasolina, suficiente para abastecer toda a frota por quase dois meses.
Até agora, as investigações concluíram que o esquema de fraude tinha participação de policiais dos batalhões e de dentro da Diretoria de Logística, além de funcionários da fornecedora, a Petrobras Distribuidora. O IPM que investigou a fraude no RPMont — que teve como encarregado o coronel Robson Rodrigues, atual chefe do Estado-Maior Geral da PM — demonstrou que o combustível que saía da fornecedora não chegava nem ao batalhão. Entretanto, notas fiscais falsas foram lançadas no livro da unidade para simular a entrada da gasolina no tanque das viaturas. Segundo a PM, até agora 11 policiais foram indiciados pelos desvios — entre eles três majores, lotados no Comando de Operações Especiais, no 16º BPM (Olaria) e no 3º Comando de Policiamento de Área (CPA).
A constatação dos desvios já provocou mudanças na logística de aquisição de combustível e abastecimento da PM. Após a abertura dos IPMs, a corporação implantou nas viaturas um sistema chamado Controle Total de Frota (CTF), que estabelece um controle de combustível nos carros e arquiva todos os abastecimentos realizados. O uso do equipamento já dura um ano, porém, entre integrantes do novo comando da corporação, que assumiu na última segunda-feira, a gestão de combustível é considerada “amadora”.
Por isso, um grupo de estudos — liderado pelo subchefe administrativo do Estado Maior, coronel Paulo Teixeira — foi criado para criar novos mecanismos que possam inibir fraudes. A primeira mudança foi publicada no boletim da última terça-feira: os pedidos de combustível devem ser feitos pelos comandantes de batalhão diariamente em horários específicos. O diálogo com a fornecedora será tarefa exclusiva da Diretoria de Logística.
A dois dias da virada do ano, o EXTRA revelou a falta de gasolina nos tanques da PM. Uma mensagem foi enviada via rádio a policiais de pelo menos 15 batalhões determinando o desligamento das viaturas para economizar combustível. A corporação admitiu a falta de combustível e alegou que se tratou de “problemas operacionais na logística de distribuição da fornecedora”. Desde a última terça-feira, o fornecimento foi normalizado.
Outro lado
Procurada pelo EXTRA, a Petrobras Distribuidora informou, por nota, que “vem colaborando com as investigação sobre irregularidades na entrega de combustível. A BR informou que os pedidos são colocados pelo cliente em sistema informatizado, liberados automaticamente e as entregas são atestadas pela PM. A BR esclarece ainda que não foi informada de qualquer envolvimento de empregado da companhiaEm meio à falta de gasolina, policial abastece viatura com dinheiro do próprio bolso; foto
Com os tanques vazios, cada PM se vira como pode. Alguns pagam gasolina do próprio bolso para circularem pelas ruas. É o caso de um carro da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), flagrado abastecendo num posto em Bonsucesso na última sexta-feira. De acordo com a assessoria de imprensa da CPP, nenhum PM recebeu determinação para abastecer por contra própria por conta da falta de gasolina.
Nesta terça-feira, a PM informou que conseguiu repor combustível em todos os batalhões. “A PM informa que a quantidade de combustível disponível para cada unidade depende do nível de consumo e de viaturas, como também do tamanho da região de policiamento de cada batalhão. Para contemplar as viaturas são necessários mensalmente 1,450 milhão de litros de gasolina, 160 mil litros de álcool e 115 mil litros de diesel. Não houve falta de combustível nesta terça-feira. A reposição está incluída na cláusula do contrato vigente com a distribuidora”, afirmou em nota a corporação.
Aviso via rádio
Uma ordem passada por volta das 21h do último dia 29, via rádio, para policiais militares de serviço em 15 batalhões na capital, Baixada e São Gonçalo determinou que viaturas em patrulhamento nas ruas parassem, desligassem o motor e a sinaleira. Segundo a ordem, por conta da falta de combustível, os PMs de radiopatrulhas deveriam parar os carros e sair dos veículos. O EXTRA circulou pela cidade e conversou com praças e oficiais do 5º BPM (Praça da Harmonia) e do 6º BPM (Tijuca), que confirmaram o recebimento da ordem.
“Segundo determinação do chefe do Estado Maior, coronel (Claudio) Lima Freire, todos os prefixos do batalhão deverão estar com as viaturas desligadas e com as sinaleiras também desligadas, correto? Exceto aquelas que estão atendendo ocorrência. As que não estão empenhadas deverão basear em algum local e desligar a viatura e a sinaleira”, avisou um policial pelo rádio a PMs do 19º BPM (Copacabana)
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