DESMATAMENTO EM APERIBÉ: DESABAFO
Marcelo da Cunha Hungria
Pesquisador da História Regional
FOTO : ADILSON PSIU
Estive recentemente conversando com uma pessoa da nossa comunidade, que
por motivos éticos não revelarei o nome, mas que se trata de alguém
graduado em alguma área do conhecimento e que me disse não acreditar
que, atitudes simples como plantar árvores ou economizar água possa
ajudar a resolver os problemas gerados pela longa estiagem em nossa
região. Em primeiro lugar, esse cidadão contesta que toda a água que
passa pelo rio, de certa forma é desperdiçada ao cair ao mar. Logo, se
não a usarmos deliberadamente, vai se perder de qualquer maneira. Em
relação ao plantio de árvores, afirma que não serão algumas a mais que
contribuirão com alguma coisa, já que o problema do desmatamento e das
queimadas abrange todo o Brasil, principalmente a Amazônia e o mundo...
É ou não é de ficar sem palavras!? Se uma pessoa assim, que tem
conhecimentos gerais porque teve a oportunidade de frequentar os bancos
escolares, encerrando-se o processo com um curso superior e depois uma
pós-graduação, o que podemos esperar então daquele humilde produtor
rural que ainda pratica a coivara, que aplica defensivos agrícolas em
suas plantações sem nenhuma proteção pessoal e que deposita os frascos
vazios em qualquer despejos? Não acredito que para vestir a camisa em
defesa do meio ambiente a pessoa tenha que ter em mãos algum diploma de
faculdade. Creio que o ativismo ambiental precisa passar pela
sensibilidade de cada um, já que consciência quase todos têm, uma vez
que os meios de comunicação em massa nunca deram tanta atenção aos danos
causados pela ação destrutiva do homem contra a natureza como agora.
Todos estão bem informados e conscientes do que tem acontecido.
Sensibilidade para avançar, no sentido de amenizar os danos e aos poucos
mudarmos nossos hábitos há tanto ignorados.
O município de Aperibé apresenta dados assustadores. Há muito tem-se
revelado como o mais desmatado e degradado do Estado do Rio de Janeiro,
sem nenhum projeto permanente objetivando reverter a situação. E ainda é
possível encontrar proprietários rurais insistindo em derrubar e
queimar as últimas áreas de remanescentes de mata atlântica para dar
espaço a mais algumas cabeças de gado. O mais irracional disso tudo é
que as estiagens, a cada ano mais insistentes, transformarão toda essa
área num semideserto impossível de se praticar a criação extensiva. De
que adianta arrancar da terra tudo o que ela pode dar de uma vez só, sem
se preocupar com o futuro?
A irracionalidade e a bestialidade das pessoas nunca chegaram a um
patamar tão desenvolvido. A mesma pouca água dos rios que abastece as
casas, diariamente recebe poluentes provenientes dos esgotos
domésticos, lixos domésticos e outros. Esperamos muito das autoridades,
sem nos darmos conta do papel da sociedade civil. Se observarmos os
córregos que cortam a cidade, encontraremos todo o tipo de expurgos,
incluindo móveis e eletrodomésticos, objetos que em caso de chuvas
fortes, obstruem a passagem da água causando inundações.
Durante a última estiagem de inverno, a pequena reserva florestal do
produtor rural Luis Bragança, que vem buscando, ao longo de sua vida,
produzir em harmonia com o meio ambiente, foi quase que totalmente
destruída por um incêndio criminoso. E não foi a primeira vez que,
deliberadamente a irracionalidade dessas pessoas praticaram esse ato. Ao
longo dos últimos vinte anos, essa mesma área foi incendiada
covardemente diversas vezes. Em algumas ocasiões, boa parte foi
replantada pelo proprietário e também por alunos meus em projetos que
tinham como foco principal o alerta para essas questões.
Depois da última queimada, quase nada restou, senão pedras e terra cedendo e aterrando a estrada Aperibé-Funil.
Participei de muitos encontros sobre a questão ambiental. Foram
traçados planejamentos estratégicos de curto e longo prazo. Nada ou
quase nada foi concretizado. Ainda hoje muito estardalhaço, entrevistas e
nenhuma ação objetiva. As escolas criam projetos, envolvem os alunos,
tiram muitas fotos para o mural, mas não colocam em prática ações
simples como economizar energia elétrica, água e papel. Estamos
esperando mais sinais da natureza para abrirmos nossos olhos e sairmos
da inércia. Uma coisa é certa: a natureza nunca esteve no ostracismo.
Fiquemos mais espertos!
0 comentários:
Postar um comentário