A recente descoberta às margens do Rio Paraíba do Sul e na área de
abrangência da UHE Itaocara de uma estrutura antiga que está sendo
chamada de "forno indígena" e se assemelha a outros três fornos
encontrados em Itaocara e um em Bom Jesus do Itabapoana e relacionados
como sendo do início do século XIX, está sob ameaça.
Neste
domingo (09/08) uma equipe da ASPIRA (Associação que atua na região e
que notificou os órgãos responsáveis) foi até o local para fazer novas
fotos e vídeos à pedido de uma emissora de TV, mas ao chegar constataram
que foram feitas escavações no local sem qualquer critério. A terra no
interior do forno que possui muitos vestígios de carvão e cerâmica foi
toda revirada e muito material foi retirado e amontoado do lado de fora.
Um novo buraco foi aberto no interior e lixo foi deixado para trás.
A ASPIRA está preocupada com a demora
do poder público em tomar as providências para proteção deste que pode
ser um patrimônio histórico revelante para a região, ainda mais que
aparentemente este forno está em melhor estado de conservação do que os
demais descobertos até agora.
Lenda do Ouro do Mão de Luva ameaça o sítio arqueológico
Quando estavam retirando o lixo deixado no forno pelas pessoas que o
invadiram, um morador da região passou de carro e perguntou se o pessoal
da ASPIRA estava naquele buraco procurando ouro, o que foi motivo de
risos na hora, mas depois, ao conversarem com outros moradores da
região, descobriram que há muitas pessoas que acreditam que o ouro do
famoso "Mão de Luva" pode estar enterrado naquela área e por isso tem
muita gente curiosa e querendo escavar mais o local na tentativa de
achar o lendário tesouro deste personagem histórico.
Quem foi o Mão de Luva?
Manuel Henrique, o Mão de Luva, para os romancistas, foi um
importante nobre português que conquistou o coração da então princesa e
futura rainha Dona Maria I, numa relação amorosa tumultuada, onde não
faltaram promessas eternas, fugas em navio e muita paixão. Para os
historiadores, um esperto aventureiro que liderou um grupo de
exploradores e contrabandistas de ouro e que se instalou na região onde
hoje é o município de Cantagalo, cuja origem do nome tem relação com sua
prisão. Conta-se que em 1786 os guardas da corte custaram muito para
encontrar o arraial que Mão de Luva havia fundado. Já desistindo da
caçada, ouviram o cantar de um galo, denunciando a presença dos
aventureiros. Tal fato originou o nome da posterior Vila de São Pedro do
Canta Gallo, atual município de Cantagalo. Com o seu desaparecimento
veio a tona as lendas e estórias que especulam sobre o local onde foram
escondidos todo o ouro conquistado com anos de ocupação na região.
Em janeiro de 1787, embora não acreditando muito nas versões sobre o
tesouro, o Vice-Rei, D. Luiz de Vasconcelos, ordenou que se fizesse a
investigação, conforme documento da Biblioteca Nacional:
“Há quem diga que no Sertão do Macacu, aonde foi preso Manoel
Henriques, por acunha o Mão de Luva, deixou este enterrado três arrobas
de ouro dentro de uma vasilha que ficara coberta com uma laje três
palmos debaixo da terra. Em se devendo desprezar esta notícia, assim
mesmo despida de toda a certeza, se faz muito necessário que Vsa Exa
mande examinar o lugar...”
Seu nome virou um mito, envolto em mistérios, sendo o que mais
fascina a todos é o local onde estaria ocultado o seu tesouro. Mais de
dois séculos se passaram e toda essa fortuna, se ela mesmo existiu,
ainda está a espera de um descobridor.
Não é ouro, mas pode ser sim um tesouro
A ASPIRA tem procurado conscientizar os moradores da região de que
apesar da narrativa do local onde estaria enterrado o tal ouro do Mão de
Luva se assemelhar com o buraco que foi encontrado, não passa de uma
coincidência e que o verdadeiro tesouro é histórico, pois se comprovado
que a estrutura é de fato um forno antigo, será algo importante de ser
protegido para a preservação de bens pertencentes ao mundo do trabalho e
a história do desenvolvimento de nossa região. Na próxima semana a
ASPIRA vai encaminhar novos ofícios ao IPHAN e ao Ministério Público
fornecendo mais evidências da importância do local e reafirmando a
necessidade urgente de se averiguar a necessidade de se tomar as medidas
de proteção cabíveis antes que este bem seja depredado pela ação de
curiosos.
Valmy Gomes - Fontes: ASPIRA / Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro / Alvaro Lutterback
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